terça-feira, 27 de maio de 2008

O Impacto das Novas Tecnologias e as Dimensões da Inclusão Digital

As novas tecnologias, segundo o determinismo tecnológico, têm a prerrogativa de influenciar os diversos domínios da vida. Diante da importância dessas tecnologias, surge a preocupação com a inclusão digital, já que um grande número de pessoas continua sem acesso a tais ferramentas. O presente artigo busca expor o impacto das novas tecnologias e suas respectivas repercussões, sempre considerando a parcela não conectada da população mundial. Essa é uma maneira de refletir mais minuciosamente a respeito das circunstâncias e dos resultados da exclusão digital.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mercado, política e Sociedade Digital: Costurando relações e efeitos

Patrícia dos Santos da Cunha¹
¹ Escola de Relações Públicas – ESURP Recife/PE

RESUMO

O presente trabalho realiza uma revisão do artigo Cidadania Digital e Competitividade. Para isso, expõe as principais considerações do artigo em uma análise relacional entra a tecnologia digital com a cultura, a política, a economia e o social. Todo o conteúdo é tratado sob o enfoque dos efeitos das novas tecnologias da informação e da comunicação na vida pessoal e social dos indivíduos.

Palavras-Chave: Tecnologia Digital, Inclusão – Exclusão, Política, Mercado, Sociedade.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo se propõe a analisar o trabalho Cidadania Digital e Competitividade, escrito pelo antropólogo, sociólogo e cientista político, professor Antônio Flávio Testa (2007). O professor abre o texto referindo-se à urgência da inclusão digital neste novo milênio, como fato obrigatório para o desenvolvimento das nações. Ele menciona a universalização do acesso como “uma das utopias do século XXI” o que mostra seu ceticismo quanto à efetivação desse acesso universalizado. Ao mesmo tempo em que demonstra a essencialidade do tema vinculando-o ao desenvolvimento econômico, chama atenção para a dificuldade de concretizá-lo.
A exclusão digital é identificada como conseqüência e causa de outros tipos de exclusão. Se a exclusão social, política, econômica e cultural desemboca na impossibilidade de acesso a computadores e à internet, a exclusão digital aprofunda os outros tipos de marginalização em uma estrutura que se retroalimenta. Para acabar com ou diminuir a posição marginal de alguns grupos sociais é preciso quebrar o ciclo agindo, não apenas em uma, mas em todas as esferas da vida humana. Bernardo Sorj e Luís Eduardo Guedes, em Exclusão Digital: problemas conceituais, evidências empíricas e políticas públicas, mostram que a inclusão digital não depende apenas do acesso a computadores e à internet, mas também do tipo de acesso (de qualidade), da quantidade de tempo disponível e de uma bagagem educacional básica, da qual depende a interpretação das mensagens e a correta utilização da tecnologia.

2. EXCLUSÃO/INCLUSÃO DIGITAL
Ao perpetuar a exclusão em quaisquer das esferas – social, política, econômica ou cultural – a propagação do uso das tecnologias digitais é dificultada. O não uso dessas tecnologias pela parte desprivilegiada da população implica seu atraso em relação aos ricos e sua cristalização na situação atual – quando não o seu agravamento. Os mais desfavorecidos ficam de fora de um novo âmbito de ação social: o virtual. Deixando de participar de um novo mercado – como consumidores e produtores - da nova forma de exercer política e da cultura digital como um todo. Uma parte importante da cidadania lhe é inacessível e suas vozes são silenciadas antes mesmo de serem pronunciadas.
A exclusão digital acaba silenciando vozes em potencial que não conseguem exprimir-se através de um importante canal da política pós-moderna: a internet. Essa situação não é de todo nova, sendo já recorrente em outros meios de comunicação. Contudo, no caso das mídias de radiodifusão, são poucos os emissores e o diálogo é escasso. Já a internet é o meio dialógico por excelência e a conversação se dá através, não de uma assimetria como no caso da radiodifusão, mas através da figura reticular. O sentido não é mais de um para muitos, mas sim, de “todos” para “todos”. A exclusão desse meio é por isso mesmo ainda mais lastimável e é, de maneira geral, decorrente dos mesmos motivos que excluem parte da população dos meios eletrônicos (rádio e televisão): o interesse privado suplanta o interesse público.
Mais uma vez, assim como ocorre com no rádio e na televisão, a maioria deixa de ser ouvida por não ter acesso aos meios de comunicação. Mais uma vez, se volta a um ciclo que precisa ser interrompido para a melhoria da sociedade: se as demandas dos pobres não são levadas a público, ou o são de maneira deturpada, torna-se difícil a mudança dessa situação e, se não saem da situação de pobres marginalizados, as pessoas não conseguem participar do mundo virtual. Isso também comprova a necessidade de se atacar a exclusão digital através de várias frentes. O autor explicita isso quando diz que “é necessário agir de forma coordenada, o que demanda capacidade de gestão pública acima da média apresentada pelos diversos governos”.

3. INCLUSÃO DIGITAL E CIDADANIA
Ao exigir um tipo de gestão superior, Antônio Flávio se refere também à atitude de dar ênfase às ações que visam a “formação de uma inteligência digital em escala significativa” ao invés de dar preponderância aos interesses comerciais. Ele passa a demonstrar como os objetivos comerciais de curto prazo comprometem os objetivos sociais de longo prazo. Segundo, Antônio, a exclusão digital ocasiona a exclusão de um tipo de espaço: o virtual. A tecnologia digital é, então, mais do que uma ferramenta e configura-se como plataforma essencial para a realização de trabalhos, transações financeiras, relacionamentos, diversão. Dessa forma, da inclusão digital, associada à educação, dependem diretamente a inclusão social, econômica e política.
A inclusão digital apresenta-se como condição sine qua non para o estabelecimento da competitividade saudável, ou melhor, sustentável no mundo moderno. A competitividade da forma como vem sendo praticada não gera riquezas, apenas “canibalização setorial”, diminuição do ciclo de vida dos produtos e serviços e uma fragilidade do mercado que carece da fidelização de clientes. A atitude correta, segundo o autor, seria a formação dessa parcela excluída para que constituídos como cidadãos possam incrementar o mercado de forma consciente. Essa incrementação ocorreria, sobretudo, depois de uma maior participação no mercado de trabalho e através de um maior acesso ao comércio digital e ao desenvolvimento de escolhas conscientes.
Depois deste ponto, o autor começa a desenvolver o subtítulo Cidadania Digital. De acordo com ele:

Essa nova dimensão social e política explicita um novo jeito de ser, que se qualifica pelo acesso autônomo do mundo virtual e a toda a complexidade, assim como a participação na vida comunitária digital e o acesso ao comércio eletrônico em condições efetivas, com real poder de compra. (TESTA, 2007, p. 68)

A condição de cidadão digital, dessa forma, depende de e acaba aprofundando a cidadania política, social, econômica e cultural. E só poderia ser dessa forma, já que o surgimento das tecnologias não são fatos isolados, mas estão intrinsecamente ligados ao nível de desenvolvimento humano. Assim também, as tecnologias acabam influenciando e modificando sobremaneira a estrutura social e as práticas culturais. No Brasil, como a desigualdade econômica é bastante acentuada, isso repercute na desigualdade do acesso às tecnologias de informação que acabam por agravar as diferenças econômicas. É por isso que, segundo o sociólogo, “a inclusão digital está diretamente vinculada à cidadania do século XXI”.

4. INCLUSÃO DIGITAL E COMPETITIVIDADE
O autor passa então a realizar uma análise da estrutura econômica contemporânea vislumbrando a necessidade de novos consumidores. É demonstrado o impacto do mercado que oferece cada vez mais produtos ao mesmo número de consumidores saturados. A guerra pelo lucro e por uma parcela desse mercado leva ao aperfeiçoamento de técnicas de sedução que acabam influenciando os consumidores e toda a atmosfera social. Segundo Denis de Moraes (2006), a sociedade de hoje vive a tirania do fugaz através da mercantilização cultural e da saturação midiática. Tudo passa a ser mais fluido: desejos, comportamentos, identidades, lugares, relacionamentos. Professor Antônio chama atenção para as seqüelas psicossociais originadas a partir da nova cultura digital. O comportamento, os juízos, as valorações, tudo é modificado e às vezes até subvertido. Valores globais são impostos com diferentes resultados locais, ao mesmo tempo em que as especificidades locais são internacionalizadas. As identidades individuais são efêmeras e as grupais são fragmentadas e menos definitivas. Antônio Testa continua:

A resultante mais nítida desse processo é a acentuada crise de identidade, que se expressa pela quebra de sistemas referenciais individuais e pela perda de poder da cultura historicamente consolidada. (TESTA, 2007, p. 69)

O importante das relações pessoais não é mais a profundidade, mas sim a intensidade. O gozo do presente, o hedonismo suplanta o respeito às tradições do passado e a preocupação com as construções para o futuro. Os laços são frouxos e a sensação de pertencimento é colonizada pela moda predominante.

5. TECNOLOGIA DIGITAL E AS VERDADES CONSTRUÍDAS
O autor segue expondo a importância dos portais de busca na delimitação do conhecimento e mostra como a submissão desses portais ao totalitarismo político pode atrasar e até impedir o desenvolvimento da democracia na China. Outro autor, Lorenzo Vilches (2006), no artigo intitulado Migrações Midiáticas e Criação de Valor, explica como o posicionamento dos resultados nesses sites de busca implica uma maior ou menor valoração do conteúdo “encontrado”. E, além disso, mostra o processo de compra de posições ou contratação dos “dez primeiros” por agências de publicidade. Também na internet interesses privados suplantam interesses públicos.
Para agravar a situação, segundo Venício Lima (2001), o mercado global de mídia é hoje controlado, num primeiro nível, por cerca de dez enormes conglomerados. Diante desse quadro de produção de informação concentrada sob os domínios de uma dezena de megacoorporações, Antônio Flávio destaca a importância da educação e do discernimento frente à complexidade e às simulações da sociedade moderna:

A busca da informação inteligente, que subsidia o processo decisório organizacional e individual, e a fuga da informação desinteligente, que leva à decisão não autônoma, tomada com base nas ações persuasivas institucionais e comerciais, indutoras do consumo de supérfluos e da assunção de valores exógenos e anuladores da identidade individual, expressam a dicotomia mais significativa enfrentada pelas pessoas no que se refere ao discernimento na atualidade. (TESTA, 2007, p. 69)

Depois disso, o autor segue indicando o descompasso entre os problemas suscitados pela presença da tecnologia digital na vida moderna e as preocupações da agenda política global. Um desses descompassos pode ser encontrado na falta de discussão sobre a preservação da intimidade e a nova estruturação do espaço público e privado.
Após essas considerações, o autor volta aos portais de busca e à construção midiática da realidade. O autor realiza um escopo da presença da tecnologia e da mídia digital na vida humana, abordando questões como identidade e privacidade. O embate entre interesse público e interesse privado é levado até os sites de busca como o Google; e chama-se atenção para o perigo que sua postura comercial representa para a construção dos parâmetros valorativos sociais e dos indivíduos. O autor identifica a situação atual como uma época de mudanças em construção, na qual há uma redifinição dos valores, dos comportamentos e do sistema de referências coletivo e individual.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O autor conclui o texto explicando o que seria a inteligência competitiva: um conjunto de habilidades que permitem ao indivíduo sua participação efetiva, autônoma e consciente no mercado de trabalho, na política, na cultura e na sociedade. Isso é viabilizado através da correta utilização das informações disponíveis, analisando, construindo mapas, diagnósticos e conseguindo prospectar em relação à conjuntura na qual se vive. É reiterada a importância do acesso às tecnologias digitais para o desenvolvimento pessoal e social e para o atendimento às exigências da vida pós-moderna.
A falha das instituições estatais e públicas em acompanhar e proporcionar esse desenvolvimento atrasa a inserção dos indivíduos e do país em uma realidade já concretizada para a parcela mais rica da nação e do mundo. A parcela menos favorecida acaba sentindo as mudanças advindas da cultura digital, mas não usufruem e nem participam ativamente dessa nova interface social.
A tecnologia muda a vida das pessoas no sentido micro de suas relações interpessoais do cotidiano e no sentido macro da estruturação social e de sua rede de acontecimentos sóciopolítico-econômicos. Muitas pessoas não têm acesso às peculiaridades que acompanham a tecnologia digital, como a interatividade virtual e o hipertexto. Ocorre, então, o que Guillermo Orozco Gómez (2006) chama de destempo. Há uma discrepância entre a situação micro e a situação macro na qual o indivíduo se encontra. A maioria da população sente as conseqüências dos mercados mundialmente ligados por redes de comunicação on-line, que levam informações financeiras de um lado ao outro do planeta em tempo real. Um exemplo disso é o aumento da cesta básica porque a cotação do trigo e do leite aumentou no mercado mundial; ou ainda a diminuição do preço da carne porque o Brasil foi obrigado a diminuir a exportação desse alimento para a Europa. As conseqüências são sentidas, mas poucos sabem identificar sua origem. Por outro lado, um grupo de experts consegue não só mapear a conjuntura econômico-financeira e seus desdobramentos, mas também se antecipa a elas. Isso gera riqueza, isso gera poder e é possibilitado através da informação. Quanto maior o acesso à informação, mais possibilidade se tem de desenvolver aptidões necessárias à dominação, seja ela política, econômica ou cultural.
Esse exemplo serve para ilustrar a importância da informação na vida contemporânea. Diariamente, incontáveis situações tomam forma através de dominadores bem informados e dominados sem acesso à informação de qualidade. A dimensão psíquica é abalada sem que, contudo, as pessoas desenvolvam as habilidades necessárias à nova situação. A exclusão digital, que corresponde à exclusão do acesso a computadores e à internet, leva à exclusão social, política, econômica e cultural. Os ricos têm acesso prioritário a novas tecnologias. E só com o passar de um período mais ou menos longo os pobres também têm acesso a essas tecnologias. Porém, o ciclo nem sempre se completa e, enquanto não ocorre a universalização do acesso, as desigualdades são aprofundadas. Para que as tecnologias de informação e comunicação contribuam para o real desenvolvimento da sociedade é necessário, antes de tudo, que elas sejam socializadas, universalizadas. Do contrário, elas apenas contribuirão para o agravamento das desigualdades, na medida em que permite o aumento da produtividade e do acesso à informação somente para a mesma pequena elite mundial.
O papel das políticas públicas na democratização das TICs e da informação de qualidade é determinante. As políticas públicas devem desenvolver ações considerando os vários aspectos da exclusão digital.
Dentro desse contexto remanesce uma pergunta: num cenário de múltiplas mudanças e desordenamentos, como as instituições do governo farão para gerir a desigualdade de acesso entre as diversas pessoas, quando o próprio governo está defasado no seu sistema gerencial? Antes de tudo, a atitude governamental deve mudar de reativa para proativa, modernizando-se e disseminado o uso das tecnologias de informação e comunicação. Questões inéditas começam a despontar com o uso das novas tecnologias e só uma estrutura político-governamental ágil e comprometida com as tendências sociais pode tentar solucionar essas questões. Torna-se, portanto, indispensável a reforma do Estado e a reestruturação de suas instituições focando num futuro próximo. O domínio da informática é, hoje, condição necessária para se conseguir um emprego e um bom desempenho escolar. O uso das novas tecnologias da informação apenas por uma parcela privilegiada da população aumenta a desigualdade social. Dessa forma, a universalização do acesso não é mais do que a luta por renivelar as condições de acesso ao mercado de trabalho e à cidadania.

BIBLIOGRAFIA
· GÓMEZ, Guillermo Orozco. Comunicação Social e Mudança Tecnológica: Um Cenário de Múltiplos Desordenamentos. Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
· LIMA, Venício. Mídia: Teoria e Política. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
· MORAES, Denis de. A tirania do fugaz: mercantilização cultural e da saturação midiática. Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
· SORJ, Bernardo e GUEDES, Luís Eduardo. Exclusão Digital: problemas conceituais, evidências empíricas e políticas públicas.
· TESTA, Antônio Flávio. Cidadania digital e competitividade. Inclusão Social, v.2, n. 1, p. 67-72, 2006.
· VILCHES, Lorenzo. Migrações Midiáticas e Criação de Valor. Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

sábado, 10 de maio de 2008

Por que mudar a mídia?

A mídia corporifica, nos dias de hoje, importantes canais difusores de creças e juízos sociais. Sua ação tanto reitera como (re)cria valores adotados socialmente. Quando esta mídia - composta por livros, jornais, revistas, televisão, rádio e internet - está nas mãos de poucas pessoas, os interesses socias ficam comprometidos. A formação de megaconglomerados de infoentretenimento, intensificada na década de 1990, levou a uma concentração dos meios de comunicação. Uma dezena de atores políticos e econômicos dominam os principais canais de comunicação da modernidade. A comunicação de massa acaba protegendo o interesse desses atores e há limitação no número e no tipo de vozes ouvidas na mídia. A comunicação de interesse público dá lugar à de interesse privado. Isso traz consequências para o conteúdo veiculado e para os efeitos que esse conteúdo produz. Numa sociedade onde as interações se dão de forma cada vez mais midiatizadas, ou seja, tendo a mídia como interface, os meios de comunicação têm a capacidade não só de refletir mas também de reiterar e modificar essa sociedade. Daí vem a necessidade de se mudar a mídia: para que essa mudança priorize o interesse público e não o interesse privado da elite político-financeira. A mídia de radiodifusão - televisão e rádio - depende de concessões públicas para seu funcionamento. Esse é um fato desconhecido de muitas pessoas e que obriga esses meios a seguirem princípios e finalidades sociais. Isso não vem sendo cumprido. E é como mais uma ferramenta da luta pela democratização da comunicação que esse blog se estabelece.